Para
"Além das Cordilheiras" é o título do álbum que Fausto publica em
1987, com chancela da CBS. Depois de "Por Este Rio Acima" e de
"O Despertar dos Alquimistas", Fausto já não tinha nada para provar e
este trabalho vem apenas evidenciar a versatilidade criativa de um autor,
compositor e intérprete de excepção da música portuguesa. Portugal e Espanha,
dois países ainda não há muito saídos de prolongadas ditaduras isolacionistas,
haviam sido admitidos na Comunidade Europeia a 01 de Janeiro de 1986, e Fausto,
aproveitando o pretexto, concebe um álbum inspirado no encontro de um Portugal,
ainda pouco europeu em vários aspectos, com a velha Europa civilizada, de além
Pirenéus. É o retrato de uma nação que, perdido o império colonial, lentamente,
se vira a norte mas cuja memória ainda repousa a sul. Ao longo das canções do
disco, Fausto conduz o ouvinte de Lisboa a Berlim, estrada fora. O que na era
de Quatrocentos e Quinhentos fora uma epopeia marítima, transforma-se neste fim
de século XX na (re)descoberta de paradigmas económicos, sociais e culturais
que durante séculos permaneceram distantes. Afirmando sempre a sua condição de
português, Fausto liga-se mais do que nunca, ao seu continente de origem,
"sem preconceitos, mas também sem cedências". Com produção de Eduardo
Paes Mamede, que partilha os arranjos como o próprio compositor, Fausto
interpreta nove temas, todos da sua autoria: "Lusitana", "Toda a
Europa à Proa", "Foi por Ela", "Prego a Fundo",
"Ali Está a Cidade", "Porque Me Olhas Assim", "Eu Cá
Sou do 'Midi'", "Europa, Querida Europa", e "De Ocidente a
Oriente". A execução instrumental é assinada pelo do próprio Fausto
(guitarras acústicas) e por um elenco de músicos de alto gabarito: João Lucas
(teclados), André Sousa Machado (bateria), Rui Luís Pereira "Dudas"
(guitarras eléctricas), Pedro Casaes (baixo), Fernando Molina (percussões),
Edgar Caramelo (saxofone), Tomás Pimentel (trompete), Eduardo Paes Mamede
(flautas) e António Pinheiro da Silva (programação de sintetizadores), sendo os
coros feitos por Rui Vaz, Fausto, João Lucas, André, Fernando Molina, Pedro
Casaes e Eduardo Paes Mamede (creditado como Ed).
O disco
seria distinguido com um Se7e de Ouro (na categoria de Música
popular/tradicional) e com o Prémio José Afonso, logo na sua primeira edição.
Zeca Afonso que contou com a estreita colaboração de Fausto na gravação de
alguns dos seus álbuns, terá certamente ficado contente que tenha sido ele o
primeiro nome a figurar na lista de contemplados com o Prémio de que é patrono.
E se o Prémio já existisse em 1982, quando José Afonso ainda pertencia ao
número dos vivos, estou certo que seria ele próprio a fazer questão que a
distinção fosse para o álbum "Por Este Rio Acima", uma obra que muito
apreciava e para a qual não deixou de chamar a atenção no concerto que deu no
Coliseu dos Recreios, em Janeiro de 1983.
Fonte – a nossa rádio
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