Entrevista agência "Lusa"


Fausto Bordalo Dias canta o fim de uma trilogia de viagens.




A longa viagem de Fausto Bordalo Dias pelas crónicas e relatos da diáspora e dos Descobrimentos, que lhe tomou trinta anos na composição de uma trilogia, culminará com concertos este mês, nos coliseus de Lisboa e do Porto.


No sábado, Fausto estará no Coliseu de Lisboa e, no dia 25, no Coliseu do Porto com a transposição para palco de praticamente todo o disco "Em busca das montanhas azuis", editado no ano passado, o tal duplo álbum que faz parte da trilogia de uma vida, juntamente com "Por este rio acima" (1982) e "Crónicas da terra ardente" (1994).

Fausto Bordalo Dias, 63 anos, tem um longo percurso renovador na música popular portuguesa, e esta trilogia é apenas uma parte desse trabalho.

Em entrevista à agência Lusa, Fausto admitiu que não morre de amores pelo palco, por um traço particular de caráter, a timidez: "Quando entro em palco cria-se uma tensão fortíssima. Mas depois de lá estar e começar a tocar, tenho um enorme prazer".

Pelo prazer de partilha das canções com o público, Fausto irá interpretar um tema escolhido pelos espetadores e o mais certo é que seja "Lembra-me um sonho lindo", de "Por este rio acima", a fechar os concertos nos coliseus.

A trilogia foi editada com intervalos de dez anos e engloba histórias sobre o mar, sobre naufrágios e a aproximação dos portugueses à costa africana e, por fim, sobre "a entrada pela terra dentro", naquele continente.

Quem não leu, por exemplo, "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto, ou as crónicas de "História Trágico-marítima", reunidas por Bernardo Gomes de Brito, ambas sobre os Descobrimentos, certamente fará outras interpretações das canções de Fausto, mais próximas da atualidade.

"Para mim [a trilogia] foi qualquer coisa de emotivo", recorda Fausto, por causa dos tempos em que viveu em Angola, de onde recorda "as paisagens e os céus", mas admitiu que gosta que as outras pessoas interpretem as canções à maneira delas, até porque há outras diásporas, medos e naufrágios a acontecer.

Fausto considera-se "muito céptico em relação à atualidade", por isso não quer "desanimar as pessoas": "Infelizmente, este tipo de crise e de sistema em que o mundo está mergulhado, o neoliberalismo extremista e radical, vai perdurar alguns anos".

E "Em busca das montanhas azuis" é mesmo o final de um tempo?

"Eu ponho eventualmente - sublinho o eventualmente - a hipótese de fazer uma adenda, um 'post scriptum', porque muitas coisas ficaram por cantar. Ficaram coisas na gaveta não feitas, mas por compor. Já me surgiu essa ideia, não sei se a vou fazer, mas é uma hipótese, ficaria uma tetralogia", admitiu.

Apesar de se considerar disciplinado para compor - "tenho horas certas para escrever. Já compus durante a noite muitas vezes, agora sou mais amigo da luz, preciso da luz e do dia para compor" - Fausto diz estar numa fase de "pousio".

"Neste momento não pensoem compor. Voutendo ideias, tiro apontamentos, mas acho que é preciso afastar-me. Se compomos sistematicamente tendemos a uma repetição, tendemos a fazer o autoplágio", disse.

Diário Digital com Lusa



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